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Coaracy Junior

Após 3 anos participei novamente de um evento sobre agilidade de forma presencial. A pandemia foi o principal motivo, mas confesso que estava um pouco desanimado com o que ouvia e discutia nesses encontros sobre agilidade e sua aplicação. Percebia um foco excessivo em ferramentas e discussões centradas em equipes com um direcionamento operacional, que na minha avaliação, não era o que realmente era necessário discutir. Mas no Agile Trends 2023 percebi que o entendimento geral de quem participou palestrando ou assistindo mudou seu foco para uma visão mais ampla, entendendo que precisamos pensar a agilidade em um contexto de negócio olhando para a organização de forma mais ampla. Não foi esquecida as equipes, mas ao olharmos para elas e as ferramentas utilizadas a conexão com a estratégia e resultados era o que realmente ancorava toda a discussão. Sem resultados reais e perceptíveis Agilidade perde a sua importância para as organizações.

Foram 4 dias de evento divididos em:

·        Management (03 e 04/04) – Tratando de gestão em seus diversos níveis

·        Teams (05 e 06/04) – Dedicado a temas presentes no dia a dia das equipes

Essa divisão trouxe profundidade aos temas, ajudando palestrantes e público a criar uma maior sinergia durante as apresentações e nas conversas que aconteciam na área de networking.

Compartilharei minhas impressões e ideias impulsionadas pelo evento. Convido a todos que estão lendo a refletirmos e evoluir nosso entendimento sobre temas importantes e fundamentais no atual momento econômico e de questionamentos sobre os rumos que as organizações irão seguir em meio as turbulências e desafios impostos:

Agilidade está morta? – A alguns anos tenho questionado se o entendimento sobre agilidade conforme definido no Manifesto Ágil ainda tem espaço após 22 anos de sua criação. Ouvindo as palestras e nas varias rodas de conversa que participei durante todo o evento com muitos especialistas de mercado e pessoas que estão diretamente ligadas a ações envolvendo agilidade que simplesmente usar um determinado método ou framework, criar squads e gastar com consultorias caras para treinar as pessoas não é mais a solução esperada pela alta gestão das organizações (eu penso que nunca foi, mas isso é discussão para outro artigo). Muito dinheiro já foi gasto nesse tipo de mudança, mas os resultados percebidos não foram suficientes para compensar o tempo e recursos da organização gastos.

O tema Business Agility esteve em alto em quase as apresentações direta ou indiretamente. A mudança de se falar em “gerar valor” para “resultados mensuráveis” ficou claro e mostra um amadurecimento sobre que precisamos procurar criar organizações ágeis, adaptáveis as mudanças que o negócio exige em um meio as constantes e complexas crises que estávamos envolvidos e que mostram um futuro tenso para profissionais e organizações. Temas como cultura, resultados, processos continuaram a ser discutidos como em outros eventos que já participei, mas ficou claro que a visão mudou do entendimento no nível operacional para o nível tático e estratégico. Agilidade somente é relevante quando conectado a estratégia organizacional e parte da estrutura de governança.

Agilidade em empresas focadas na transição digital de seus produtos e serviços – Esse tema não é uma novidade e vem acontecendo ao longo dos últimos anos, mas a discussão e avaliação das ações realizadas chegou em uma encruzilhada que muitos agilistas não estão preparados para entender qual a direção tomar e como as organizações estão pensando. Foi interessante ouvir representantes de grandes organizações e consultorias focando suas apresentações e conversas informais (na minha opinião a melhor parte do evento) sobre eficiência organizacional, melhorar a comunicação entre agilistas e executivos, foco no negócio da empresa superando discussões sobre produtos ou equipes, a desmistificação das iniciativas ágeis associadas a estrutura de governança, PMO e agilidade atuando em conjunto de forma colaborativa. As pessoas envolvidas com agilidade precisam entender como pensam e as responsabilidade dos executivos para criar empatia (algo tão defendido por alguns agilistas e pouco aplicado quando não falamos de equipes) sobre os seus desafios e o porque muitos deles acabam agindo de forma tão conservadora quando olham para as iniciativas ágeis que pouco contribuem, na percepção deles, no resultado final da organização. Arrisco dizer que estamos chegando ao fim dos altos investimentos em agilidade. Essas iniciativas de mudanças terão que apresentar planos e resultados mais consistentes para conseguir começar ou sobreviver. Agilidade chegou na fase adulta dentro das organizações e suas ações precisam ter a maturidade coerente com os resultados esperados. Agilistas são uma espécie em risco no ecossistema organizacional e precisam se ágeis (que ironia!!!) para se adaptarem e sobreviverem.  

A realidade não se dobra a métodos e frameworks – A algum tempo venho afirmando que ou agilidade se adapta as organizações onde estão inseridas ou serão combatidas como um agente patológico pelo sistema existente. O foco das apresentações, mesmo nos dias dedicados a times, não é falar como a organização se adaptou a um determinado método ou framework, mas como foi a customização ocorrida neles para atender os desafios do negócio. Uma coisa que me chamou atenção foi ouvir pouco sobre Scrum, que geralmente dominava as apresentações e a procura dos participantes sobre o tema nas rodas de conversa ou open space promovidos pelos stands. Os assuntos que mais escutei e conversei foram sobre Kanban, Business Agility, KPPM (foi muito boa a apresentação da Teodora Bozheva sobre o tema), Business Agility Inception (conceito e livro criado para Hiflex) e o livro lançado pela Aspercom “Guia Politicamente Incorreto da Agilidade” entre outras variações de diferentes métodos e frameworks. O que mais chamou minha atenção foi que sempre as discussões e palestras destacavam como a adaptação foi o caminho para conseguir os atingir os objetivos esperados. Ficou claro que tentar mudar a força a cultura existente, a maneira que os resultados são avaliados e os processos existentes é um meio pouco eficaz e eficiente para gerar as mudanças necessárias. A agilidade tem caído em na cilada que tanto discursa combater que é criar dogmas sobre gestão e os agentes de mudança agilistas que não entenderem esses aspectos irão cair no ostracismo organizacional, sendo vistos como uma fonte de estresse e problemas pelas pessoas que compõem o sistema organizacional.

Ao final dos 4 dias estava bem cansado e com milhões de perguntas e ideias fervilhando a cabeça que tentei resumir nesse artigo. Provavelmente quem participou do evento e estiver terminando de ler esse texto pode estar concordando, descordando e acrescentando temas que faltaram e tudo bem, isso faz parte da natureza humana, pois a interpretação do que vivenciamos é única. O que foi fantástico e rico que eu trouxe desse evento foi encontrar e conversar com muitas pessoas, em contexto dos mais diversos mas nunca iguais e que após esses dias intensos voltam para suas organizações depois de serem expostos a tantas ideias diferentes que provavelmente devem estar olhando de uma nova perspectiva como a agilidade pode encaixar a sua organização. Espero que despertos a olhar muito além da forma de aplicar o ágil no dia a dia, mas a necessidade de estar conectada com o que realmente importa para os resultados organizacionais que precisamos atingir e nosso papel nesse contexto.

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